quinta-feira, 5 de novembro de 2009

MEIGAS

"Depois da guerra vieram a peste ea fome, ea rapina,
e a Inquisição, pior e mais terrível praga que todos os destroços juntas "
Barreiro de Vázquez Varela, 1973.

Tortura pela Inquisição espanhola. Fonte: http://mcdaniel.iupdhc.org


Há 3 meses principiaramos uma temática sobre lendas galegas e portuguesas, com o artigo sobre a Santa Companha e a Moura Encantada. Aproveitamos esta semana que é tempo de defuntos, 'Halloween', Samhain e outros histórias, pra dar um ponto de vista algo diferente de uma tradição bem presente na cultura galega e bem característica da imagem que projeta no exterior: as bruxas.

Liamos ontem o poema de Celso Emilio Ferreiro sobre Maria Soliña, e sua interpretação por Carlos Núñez e Teresa Salgueiro. Esta é a história por trás do poema, com excertos de 'Guia da Galiza Mágica' de Vítor Vaqueiro:

"... processos levados a cabo pela Inquisição em Galiza ... que atingiram a cidades e vilas como Pontevedra, Compostela, Verín, Tui, Pontedeume, Padrón, Ponte de Lima e Guimarães, entre outras. Nomeadamente assinalados foram os processos de Cangas do Morrazo e, subliñabelmente, o que conduziu à morte de Maria Soliña ou Soliño, figura histórica que, envurullada na lenda, chegou aos nossos dias ".

Em 1621, piratas beberiscos turcos assaltaram a costa do Morrazo, matando vários marinheiros, levando presos como escravos para crianças e mulheres, e devastando tudo à sua passagem. Entre os marinheiros mortos se encontravam Pedro Barba e Antón Soliño, marido e irmão de Maria Soliña, uma anciã que contava, então, já sessenta e seis anos de idade. Também levaram preso a um sobrinho de Maria, Pedro Martínez, i entre as fazendas destruídas depois do ataque, conta-se a de María.
Aponta para além Vitor Vaqueiro um dado salientábel, "entre os mortos na praia conta-se João Refoxos, membro da Inquisição, o que demonstra que, em Cangas, havia autoridades do Santo Ofício que jamais opinar das supostas atividades de bruxa de Maria Soliña".

Maria Soliña. Fonte: www.educared.net

As terras dos denunciados por bruxaria passavam às mãos do denunciante, instigador e testemunhas, por isso, não é de extrañar que Maria, que provavelmente perderia a razão perante a sua desgraça, fora acusada por seus próprios vizinhos.

Maria foi torturada pela Inquisição, razão pela qual, durante o tormento declarou "ser bruxa havia mais de vinte e cinco anos, nos quais havia tido contato com o Demônio, em que se transformou em gato para ir a uma fonte que se achava na vizinhança de Cangas, e nos que matar muitas crianças ", fato este último que, diz Vitor Vaqueiro, Soliña respondida negativamente mas nas atas puseram as respostas como afirmativas.

Maria Soliña morreu no tormento, e não foi a única mulher em Cangas que sofreu nesse ano os embates da Inquisição em Portugal.


"Aquelarre", por Francisco de Goya. Fonte: http://mld.ursinus.edu

As bruxas e meigas-vocablos sinônimos ainda que há tendência a considerar as primeiras mais prejudicial- encarna "a atitude oposta à do cristão", rejeitando o batismo, adorando ao demônio, com quem chegam mesmo a manter relações sexuais, e festejam na sexta-feira -dia do calvário de Jesus Cristo- como dia santo.

A paganización e atual recuperação de ritos e costumes religiosas como parte do folclore de cada país, e neste caso da figura das Bruxas, faz com que às vezes perdemos de vista a realidade histórica que se esconde por trás delas: Uma expressão de nosso medo da morte, o fanatismo religioso, a intolerância, no caso do nosso país, além do atraso econômico, como fonte de ignorância em séculos em que outras regiões européias viviam a sua descolagem (Ilustração) e, por último, no caso das Bruxas, também a Misoginia tão característica da liturgia católica.


Por isso, alguém lhe surpreende agora que o jornal do Vaticano ande a tocar as bolas às pessoas para que deixem de celebrar o Halloween por ser 'um culto às bruxas'? Se fosse por eles, chamavam a Inquisição novamente a mais de um.

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