sexta-feira, 31 de julho de 2009

NÃO SOMOS OS ÚNICOS

Afortunadamente, não somos os únicos que vemos no Brasil, Portugal e o português uma chave para o futuro de Galiza e o galego.

Dois exemplos: Os primeiros são recém chegados, e lhe tirarão a mais de um a idéia que o lusismo "é coisa de radicais do bng". Entendendo por radical, claro, a todo o mundo que não pense como eles. O segundo é um dos grandes escritores e pensadores em nossa língua, e já há muito que vem dizendo o que propomos modestamente desde este blog.


1.- Convergência XXI: Tentam ser um germe de um partido nacionalista de direitas (outro mais, a ver como lhes vai). Mas quando menos têm o valor de ser gente jovem que se afasta do espanholismo do Partido Popular para propor uma visão em código nacionalista.

O que nos interessa: defendem "um acercamento ortográfico do galego ao português. Este é um debate que tem que ser dêdramatizado e feito desde formulações que pensem no melhor para o idioma e para seus usuários, e não para as cúpulas do PP e o PSOE e outros interesses alheios à cidadania e às empresas galegas. O idioma produz riqueza, o espanhol contribui mais ao PIB da Espanha que o turismo. Nós, além do espanhol também falamos a língua do Brasil, Angola, Moçambique, Macau, etc. E tem mais, a língua de todos esses lugares nasceu em nosso território e faz parte de nosso patrimônio; séria muito grave continuar tirando todos os dias esse ativo tão valioso ao lixo. O português não é outra coisa que o galego cultivado. Como galegos temos que lhe dar a nossa língua o tratamento de língua latina culta e não de variante ortográfica do espanhol. A atual ortografia do galego, na qual está escrito este texto, é uma escritura puramente foneticista de quem estava alfabetizado em espanhol".

Vocês podem encontrar mais informação no seu site http://www.converxencia.eu/ ou na recente entrevista en A Peneira Dixital.


2.- Suso de Toro. Com sua mestria, debulhou em um só artigo o que nós tentamos fazer entender neste blog: que se Portugal fosse a Alemanha, "galego o último". E além disso, já o vem dizendo desde o ano 2007, quando menos.

Do artigo -publicado no jornal El País (en castelhano) pela polêmica ocorrida por ter levado a Extremadura um organismo de cooperação entre fronteiras entre a Espanha e Portugal-, resumimos alguns extratas a continuação:

Que quer a Galiza de Portugal?

E que Portugal da Galiza. Portugal e a Galiza mantemos relações à galega: sim mas não. E por confusas são frustrante. Em nossa imaginação segue havendo alfândegas, guarda civil e guardinhas. Nosso pensamento é reacionário, vive quase trinta anos atrasado: ja não há fronteiras, nem pesetas e escudos mas euros, não há dois espaços mas um e a raia que separa as manchas não existe.

Atuamos ignorando a Portugal porque temos a imaginação colonizada pelo nacionalismo espanhol? Sim. Mas também o explicam as relações de poder, o mais forte, o mais rico sempre se coloca acima do mais débil ou mais pobre. Portugal sempre esteve economicamente atrás da Espanha, e assim, os galegos, apesar de estar atrás na Espanha em quase tudo, se podem sentir acima dos portugueses. Gosta sentir-nos superiores, mais ricos, mais modernos que nossos vizinhos. Os galegos somos os penúltimos dos espanhóis, mas olhamos acima do ombro aos portugueses, graças a que não temos memória e a nossa ignorância.

Graças a que não temos memória, porque o atraso econômico português não é tão diferente do nosso, só lhes levamos uns anos de adiantamento no atraso. Também esquecemos como nos viram sempre os demais: o romancista e diplomata Palácio Valdés lhe dizia a um português, "acham-se ingleses e não são mais que galegos". Mas, que ninguém o duvide, se Portugal tivesse a riqueza, poder, prestígio da França aqui todos falariam português com sotaque lisboeta. Galego o último!

E ignoramos a Portugal também por ignorância: A de nossa história. Um contínuo histórico que, com lutas dinásticas por meio, chegou até o século XV em que a Galiza, a Galiza "domada e castrada", ficou unida à uma Corona radicada no centro peninsular. Ainda assim compartilhamos um espaço lingüístico. Os portugueses moçarabizaron a língua falando à maneira do sul peninsular, lingüisticamente são nossos andaluzes, dando lugar ao mesma paradoxa de um santanderino em Cádiz: custa entendê-los. Mas nossas palavras, levadas por eles pelo mundo, as reconhecemos facilmente nessa potência em marcha que é o Brasil, ali floresce o galego, e surpreende idêntica fala em Angola e Moçambique. Só um país louco desprezaria essa riqueza, esse patrimônio lingüístico. Máis a Galiza sim. Pela sua ignorância e preconceitos, por uma ideologia nacionalista de um Estado uniformizador e centralista.

A única saída da Galícia é aceitar o mapa, a realidade e construir nossa eurorregião, levantada sobre o reencontro sem preconceitos. E se não é assim, não nos queixemos tanto pois temos o que merecemos. Extremadura não tem vergonha nem complexo em aprender a falar português: merecem ser sede desse organismo entre fronteiras. É triste, mas nós não. A merecê-lo.


Vocês podem seguir além disso ao autor galego no seu blog, http://susodetoro.blogaliza.org/.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

LA CORUÑA DE TODA LA VIDA (3ª PARTE)

No capítulo II víamos como foi que Galiza perdeu sua independência pela primeira vez em séculos. Neste terceiro capítulo, veremos que a parte galegofalante do sul do Minho correria uma sorte muito diferente.

Mas para explicar por que Galiza e Portugal não são hoje uma mesma nação... teremos que explicar primeiro como é que a Reconquista de Iberia por parte dos povos cristãos deu lugar a dois países diferentes na faixa galegogalante. Isto é, como é que existe Portugal.


Três são os episódios que definem o nascimento e consolidação da identidade portuguesa:

1.- O Condado Portucalense e
sua transformação em Reino de Portugal no ano 1139 depois da vitória na batalha de Ourique, no Alentejo, na que Afonso Henriques derrota ao exército mouro e se declara primeiro rei do Reino de Portugal, Afonso I.

2.- No entanto, não poderia falar-se de uma tomada de consciência da nacionalidade portuguesa até o
Rei D. Dinís, o equivalente -e coetâneo- ao Rei Afonso X O Sábio em Castela. Dinís, filho de Afonso III de Portugal, é uma das figuras mais notáveis da história portuguesa: chegados ao Algarve e terminado assim o espaço de reconquista possível para Portugal, amadureceu a consciência nacional do país, fundou a Universidade de Coimbra e fez da língua galego-portuguesa sinal de identidade nacional. Não por nada se presume que foi o primeiro rei português não analfabeto.




3.- A dinastia Afonsina verá-se extinta na pessoa de Fernando I, Rei de Galiza e Portugal, na segunda metade do século XIV. A guerra de sucessão em Portugal e as contínuas tentativas de independentizar-se da Corona de Castela por parte do Reino de Galiza enfrentará a Castela contra Portugal, Galiza e a Inglaterra. A batalha decisiva, que consolida a Portugal como Reino independente na península Ibérica, data do ano 1385 na célebre batalha da Aljubarrota.





O destacável é que os três episódios são vitais não só na história de Portugal, mas também na de Galiza:

1. A
transformação de Portugal em reino deixa ao Reino de Galiza engavetado entre os Reinos de Castela e Portugal, sem mais possibilidade de expansão que a faixa de Extremadura através do Reino de Leão. É muito provável que a perda de influência desde então do reino mais poderoso na península na Alta Idade Meia se deva precisamente a este fato. Quando a união de Castela e Leão deixa ao Reino de Galiza fora de jogo, a nobreza galega tentará de reorientar seu espaço político cara a Portugal em multidão de ocasiões ao longo de 2 séculos.

3. Os eventos da segunda metade do século XIV são para mim sem dúvida os
mais apaixonantes de toda esta época. Por desgraça, são também os que determinarão a sorte que correrá Galiza a partir do século XV. Enquanto para Portugal significam sua consolidação como reino peninsular em uma nova linhagem, a dinastia Avis, de sangue galega, para Galiza significam a extinção do poder desse mesmo linhagem -os De Castro, herdeiros do Rei García de Galicia- e sua definitiva integração em Castela como reino "rebelde".

Escudo da familia Castro.
Fonte: http://gl.wikipedia.org/wiki/Familia_Castro



2.- Deixamos para o final o ponto 2 porque é o que enlaçará com nosso seguinte capítulo. Já que é precisamente o Rei Dinís, figura essencial na consolidação da identidade nacional portuguesa, quem apóia no fim do século XIII a tentativa da nobreza galega de reinstaurar o Reino de Galiza. Algo que se alcançaria em 1296.


O veremos no capítulo IV.

terça-feira, 28 de julho de 2009

MAMASUNCIÓN

Eu de cinema brasileiro e português não sei muito, por tanto enquanto me ponho por dia, vamos começar por lembrar a jóia da corona de nossa (pequena) filmografia em galego. O curtametragem Mamasunción (1984).

Se você tem 18 minutos (não dura mais), e ainda não viu a pequena grande obra de nosso desperdiçado Chano Piñeiro, por seu bem não deixe de ver este emocionado retrato da emigração galega no século XX. E se já você viu, seguro que não quer perder a oportunidade de vê-la de novo.


Parte I:




Contam na wikipedia que a TVG abriu sua primeira emissão com Mamasunción. A mim me pegou algo jovem, mas ainda assim lembrança aquele dia. E o que lembrança (ai, a memória, que seletiva é!!) é que todo o mundo andava como louco por ver a JR falando galego...


Segunda e última parte:




Se depois de terminar de vê-la não lhe emocionou... voçé não é deste mundo!!

domingo, 26 de julho de 2009

O DÍA 25 E O GALEGO

O galego é a língua própria de Galiza, mas nos últimos 50 anos a extensão do bilingüismo i, em muitos casos, do monolingüismo em castelhano, oferecem para o galego um panorama desalentador. Esta é a porcentagem de galegos que tinham ao galego como primeira língua (única língua falada ou predominante na sua fala) desde a Idade Meia:



Por isso, quero especificar uma série de questões sobre meu blog e meu modo de ver as coisas:

- Tanto me dá se você realizou ontem o Dia da Pátria como se foi à praia neste caloroso verão. Tanto me dá se você acha que Galiza se chama Galiza ou Galícia, se você acha que é uma Nação, uma nação de Breogám ou uma autonomia espanhola. Tanto te me tem se você é de direita ou de esquerda, católico ou ateu, do Celta ou do Deportivo. Mas se não lhe importa a situação da nossa língua, se não fai algo por ela (algo tão simples como FALÁ-LA), se você acha que é seu "direito" não fazê-lo, nem ter de conhecê-la para aceder a um posto na administração galega, então você está faltando ao respeito a sua história, a seus antepassados e a sua cultura e não merece ir por aí dizendo que você é "galego". Fala galego, da-lhe ao galego um espaço em teu dia a dia, ama a tua língua.

- Alguns me perguntam se sou reintegracionista, se acho que Galiza e Portugal deveriam ser um mesmo país, e tal e qual. Sinceramente, igual que no ponto um, tanto me dá. A situação atual do país é tão distante a essas possibilidades, que qué mais dá. Uma coisa é como eu gostaria que fosse meu País e outra o que é possível hoje em dia (já quisesse eu que os eventos dos que falaremos nos séculos XIII a XV se tivessem resolvido como quis Galiza, mas a História não vai mudar, e nosso presente por muito que queiramos alguns, também não vai mudar tanto como para que o debate político seja "integração com Portugal sim ou não").

- Mas o que sim tenho bastante claro é que é o que precisam Galiza e o galego para sair antecipe nesta situação desesperada. E, ao invés do que muitos pensam e preocupa a tantos, não passa essencialmente pelo terreno educativo. Evidentemente, isso também é imprescindível, mas precisamente nos anos nos quais o galego se incorporou ao sistema educacional em maior ou menor medida (sim, já o sabemos, em alguns lugares não dão em galego nem as classes de galego, mas "están imponiendo el gallego en las escuelas", já falaremos disso...), é precisamente nestes anos quando mais se está perdendo falantes.

- E o que eu acho que precisam Galiza e o galego são duas coisas:

1. maior exposição à cultura luso-brasileira que se oponha o verdadeiro afogamento que sofre a cultura galega há 50 anos. O desenvolvimento das comunicações, meios, televisões, etc., fez com que a presença do castelhano em Galiza seja hoje infinitamente superior ao que se viu exposta nos séculos anteriores. No entanto, também o desenvolvimento das comunicações deveria servir para acercar-nos a o Brasil e Portugal, que hoje podem estar mais perto de nós que nunca.

2. e sobretudo, o sinto muito, mas deve ser pela minha educação em Economia que penso que "no final, o que não são contas, são contos", o que Galiza e o galego precisam acima de tudo é que a sociedade perceba que o galego é útil economicamente. Ocorre em Euzkadi e a Catalunha, onde os poderes econômicos são autóctones e defensores do seu, não como aqui. Em uma sociedade bilíngüe como é a galega de 100 anos para aqui, a maioria da gente se decantará por empregar a língua que lhe é mais útil, só os "motivados" vão manter o débil. E o galego, na sua situação, não é possível permitir viver dos "motivados]". Galiza precisa de um poder econômico e um empresariado galegos, galeguistas e aos que empregar o galego lhes resulte útil economicamente.


E ambos requisitos que eu acho imprescindíveis para reverter a situação da gráfica do princípio passam por Portugal e o Brasil, por conhecê-los e que nos conheçam. E meus blogs nosquedaportugal e alemdominho só pretende ser uma gota no qual deveria ser um oceano de conhecimento mútuo.

sábado, 25 de julho de 2009

UN MÊS, CHEIO DE AGRADECIMENTOS

Hoje, Dia da Pátria Galega, Menos mal que nos queda Portugal e Alem do Minho cumprem seu primeiro mês. E não o posso realizar de outro modo que com enormes agradecimentos a:

* os mais de 1.400 'clicks' recebidos em só 30 dias. De verdade, agradecido por todos e cada um.
* os amigos -já vocês sabem quem são- que ajudam dia a dia a fazer este blog, com contribuições, sugestões, etc.
* também certamente aos que não visitam o blog sem mais e deixam vossos comentários, votos...

Mas acima de tudo, dois agradecimentos muito sentidos:

* a Fernanda, desde Portugal, quem no seu blog Última flor do Lazio, nos dedica seu último post a Alem do Minho e a literatura galega. Muito obrigado Fernanda.
* a Rafael, um leitor dos blogs desde o Brasil, que se pôs em contato conosco para conhecer mais de nosso País e oferecer-se a ajudar a conhecer mais do seu. Muito obrigado a ti também, Rafael.

Me fazem todos sentir muito orgulhoso e com ânimos de continuar por muito tempo. Muito obrigado a todos.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

FESTIVAL DE PAREDES DE COURA

Outro ano mais, já está aqui um dos meus festivais de rock favoritos de cada verão: o Festival de Paredes de Coura. Desde a quinta-feira 30 ao sábado 1 de agosto.

Favorito pelos cartazes que ano após ano conseguem reunir (em 2008, Sex Pistols, Primal Scream ou The Mars Volta entre muitos outros), pela súa beleza natural, e por ser o maior festival de rock que se realiza na "raia" entre Galiza e Portugal. Na vila portuguesa de Paredes de Coura, a 25 km. de Tui
:


Ver mapa más grande

Este ano, cartaz de luxo com Franz Ferdinand a quinta-feira 30, Nine Inch Nails a sexta-feira 31 e os suecos The Hives



o sábado 1 como cabeças de cartaz. Vocês podem consultar toda a informaçao no site do festival http://www.paredesdecoura.com/ (e se aínda estão a tempo, comprar as entradas!!)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

ASSIM VEEM A GALIZA NO BRAZIL

Assim veem a Galiza desde o Brazil, concretamente o professor Jayme Ferreira Bueno no seu blog

http://jaymebueno.blogspot.com/2009/05/galiza-lingua-poesia-e-cultura.html


em um fabuloso e extenso artigo sobre Galiza que lhes recomendo ler com calma.

(Graças de novo a Charlie pela sugestão).

quarta-feira, 22 de julho de 2009

CANTIGAS DE SANTA MARÍA

E já que falamos de como o galego era no Século XIII a língua de maior prestígio na Península, cultivada inclusive pelo Rei de Castela, que melhor modo de fazê-lo que lembrando algumas das composições de Afonso X O Sábio nas súas Cantigas de Santa Maria (neste enlace vocês podem desfrutar TODAS):


DES OGE MAIS QUER´ EU TROBAR

Des oge mais quer' eu trobar

pola Sennor onrrada,
en que Deus quis carne fillar
beyta e sagrada,

por nos dar gran soldada
no seu reyno e nos erdar
por seus de sa masnada
de vida perlongada,
sen avermos pois a passar
per mort' outra vegada.

E poren quero começar
como foy saudada
de Gabriel, u lle chamar
foy: «Benaventurada
Virgen, de Deus amada:
do que o mund' á de salvar
ficas ora prennada;
e demais ta cunnada
Elisabeth, que foi dultar,
é end' envergonnada».

E demais quero-ll' enmentar
como chegou canssada
a Beleem e foy pousar
no portal da entrada,
u paryu sen tardada
Jesu-Crist', e foy-o deytar,
como moller menguada,
u deytan a cevada,
no presev', e apousentar
ontre bestias d'arada.


VIRGEN MADRE GRORIOSA

Virgen Madre groriosa,
de Deus filla e esposa,
santa, nobre, preciosa,
quen te loar saberia
ou podia?
Ca Deus que é lum' e dia,
segund' a nossa natura
non viramos sa figura
senon por ti, que fust' alva.

Virgen Madre groriosa...

Tu es alva dos alvores,
que faze-los peccadores
que vejan os seus errores
e connoscan sa folia,
que desvia
d'aver om' o que devia,
que perdeu por sa loucura
Eva, que tu, Virgen pura,
cobraste porque es alva.

Virgen Madre groriosa...

TOD´OME

Tod' ome deve dar loor
aa Madre do Salvador.

Dereit' é de loores dar
a aquela que sempre dá
seu ben que nunca falirá;
e porend', a[s]se Deus m'anpar:
Tod' ome deve dar loor...

E pois nos dá tan nobre don
que nos faz o amor de Deus
aver e que sejamos seus;
porend', assi Deus me perdon:
Tod' ome deve dar loor...

E pois tan poderosa é
e con Deus á tan gran poder
que quanto quer pode fazer;
por aquesto, per bõa fe:
Tod' ome deve dar loor...

terça-feira, 21 de julho de 2009

LA CORUÑA DE TODA LA VIDA (2ª PARTE)

Começamos o estudo da História comum de Galiza e Portugal que propusemos no capítulo I, entre os anos 1230 até finais do século XV.

O ano 1230 tem especial relevância na história de nosso país, já que é a primeira vez -com a exceção do incidente que daría lugar a criação do Condado de Portugal- em mais de 1.000 anos que Galiza não constitui um território independente do resto da Península:

Galiza séculos I a XIII. Elaboraçao propria.
Fonte: http://gl.wikipedia.org/wiki/Reino_da_Galiza


A evolução dos diferentes reinos peninsulares atendia a razões muito diferentes das que definiriam um "Estado Nacional" tal e como os entendemos hoje em dia. De fato, não podemos falar de estados propriamente ditos, já que trata-se mais bem de 'luitas' entre senhores feudais que se repartem seus territórios como quem briga com os vizinhos pelos limites dumas várzeas.

Mas na "base emocional" que sustentou o nascimento das nações européias, com ou sem Estado, a partir do fim da Idade Meia, estão presentes todos estes elementos:
- uma língua própria, desenvolvida desde o latim ou influenciado por este, e da qual em algum momento toma-se "consciência nacional" de seu uso.
- uma história própria, encarnada a miúdo em uma casta (nobreza, reis) autóctona.
- heróis nacionais e inimigos a bater (O Cid, Ricardo "Coração de Leão", etc. na Reconquista contra os mouros, as Cruçadas, etc.)
- por último, a miúdo as fronteiras entre reinos variavam em base a guerras com os vizinhos, os freqüentes casamentos de conveniência entre diferentes famílias reais -com o objetivo de alcançar no altar o que não se conseguia no campo de batalha-, e as guerras civis de sucessão, quando a sucessão das linhas dinásticas geravam conflitos de interesse.


Rodrigo Díaz de Vivar, El Cid.
Fonte: http://endrina.wordpress.com/category/biografias/

A ninguém se lhe escapa hoje a identificação do Cid como símbolo de "espanholidade", quando nos anos do Cid (1048-1099) não existia a Espanha como tal. Do mesmo modo, no período que vai desde O Cid aos Reis Católicos (1050 a 1500 aproximadamente), na Galiza e Portugal falava-se a mesma língua, foram governados em várias ocasiões pelos mesmos reis, e viveram seus mitos nacionais (Pedro e Inés de Castro, a batalha de Aljubarrota, o Reino de Galiza, a revolta dos Irmandinhos, etc.) anos antes que fora proclamada a "unidade nacional" sob o reinado dos Reis Católicos.

O primeiro evento que separa à Galiza de Portugal, é a resolução de uma dessas brigas dinásticas de sucessão, das que veremos muitos mais casos nos séculos seguintes e das que falaremos em próximos capítulos. Disputa pela sucessão ocorrida, neste caso, à morte do
Rei Afonso IX.

Afonso IX, Rei de Galiza e León
Fonte: http://www.artehistoria.jcyl.es/historia/personajes/5079.htm

Em vida, Afonso IX tenta recuperar a unidade de Galiza e Portugal com o casamento de conveniência com sua prima Teresa de Portugal, em 1191. Tem duas filhas, Sancha e Dulce, mas o casamento resulta cancelado pelo Papa de Roma por consanguineidade. Tenta de novo a expansão, neste caso com o objetivo de anexar Castela, casando em 1197 com sua sobrinha Berenguela de Castilla, casamento que será novamente cancelado pela relação familiar entre ambos. Desse casamento nascerá Fernando, futuro Fernando III de Castela.

Dissolvidos ambos casamentos, a relação entre o Reino de Galiza e o de Castela é de constante oposição. Em 1217, ainda em vida de Afonso IX, seu filho Fernando herda o Reino de Castela por cessão de sua mãe, Berenguela. Entre 1217 e 1230, o enfrentamento entre Afonso IX e Fernando III é constante.

Por conseguinte, a seu falecimento Afonso IX dispõe que sob nenhum conceito se cheguem em unir seus reinos de Galiza e Leão com o de Castela, e estabelece que herdarão ambos reinos as filhas do seu primeiro casamento com Teresa de Portugal, Sancha e Dulce.

Dos eventos que seguiriam vocês podem encontrar mais informação no site
http://www.artehistoria.jcyl.es/historia/personajes.htm: "Fernando III no respetó el testamento de su padre que dejaba los reinos de Galicia y León a Doña Sancha y Doña Dulce, hijas que tuviera con Doña Teresa de Portugal en su primer matrimonio. Fernando y su madre Berenguela logran en 1230 la renuncia de las herederas al trono a cambio del pago anual de 30.000 maravedíes, con lo cual la tendencia del Reino iba a ser cara a los intereses de Castilla, tomando importancia Toledo en detrimento de Santiago de Compostela como sede arzobispal y de León como ciudad regia".

O importante em nível histórico da resolução do conflito é que constitui a primeira vez que Galiza passa a depender da Coroa de Castela. Mas esta integração "tranqüila" duraria, como veremos, um único reinado, o de Afonso X O Sabio. O Rei de Castela que escreveu as Cantigas de Santa Maria (algumas delas, quando menos) na língua de maior prestígio naquele momento, o galego.

A morte de Afonso X trará consigo uma nova guerra de sucessão, na qual Galiza contará com o apoio de Portugal para restabelecer, na figura do Rei Xoán, o Reino de Galiza.

O veremos nos capítulos III e IV.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

QUATRO LINHAS EM INGLÊS

Quatro linhas em inglês (para os que saibam inglês), enlaçadas do blog do Nobel de Economia Paul Krugman. Uma idéia muito simples, resumida em quatro linhas, explicando por que as políticas econômicas monetárias são aceitadas pela direita e no entanto as políticas fiscais (mais peso do setor público) não, e deveriam, claro.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

CONVERSAS GALEGAS NA CORUÑA

Para os que vivem (vivemos) na Corunha, há uns meses todos os sábados no bar Mathews há "conversações em galego" para todos os que se queiram aproximar por ali. Vocês têm mais informação em http://www.conversasgalegas.blogspot.com/

E certamente, animar a que gente de outras vilas galegas se apontem a fazer o mesmo. O futuro de nossa língua está em cada um de nós.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

LA CORUÑA DE TODA LA VIDA (1ª PARTE)

Hoje iniciamos uma série de artigos que durante as próximas semanas pretenderão resumir a História em comum de Galiza e Portugal durante a Idade Meia até o século XV. Uma época na qual ambos povos compartilharam língua, reis, identidade, destino e objetivos comuns, e pelos quais lutaram durante mais de 250 anos até que finalmente tomaram caminhos muito diferentes. Uma série de artigos que para alguns leitores não contribuirá muito de novo, mas só porque já antes se esforçaram em conhecer de nossa História pela sua conta, porque a maioria lhe provocará mais de uma surpresa já que na "educação livre" do Estado Espanhol se preocupam bem de evitar a por ser um "episódio perdido da época feudal".

Este ensaio poderia haver-se titulado "A História em comum de Galiza e Portugal", ou "Os reis galegoportugueses", por exemplo, mais o título eleito com toda a ironia tentará deixar em evidência aos que ainda hoje pretendem enterrar nosso passado afirmando que o castelhano é tão idioma próprio da Galícia como o galego e que se chama La Coruña de toda la vida, por que quereis ahora "quitarle la ele"?. Chamarialhes panda de analfabetos se não fora porque precisamente o que pretendem é "fazer-se os rápidos".

Bandeira do Reino de Galiza
Fonte: http://gl.wikipedia.org/wiki/Reino_de_Galicia

O período que vai centrar os próximos capítulos abrange os anos 1230 a 1486. São os anos da resistência do Reino de Galiza a passar a depender de Toledo, e apostando em repetidas ocasiões pela união com o Reino de Portugal. 250 anos de sucessivas e constantes lutas com remate na Doma y castración del Reino de Galicia por parte dos Reis Católicos.

Mapa político do noroeste da Península Ibérica a finais do século XI.
Fonte: http://gl.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Europe-south-west-kingdoms.png.


Por isso, vou quase que a passar por cima a que precisamente é a época de maior gloria de nossa História e de nossa Língua: os anos do Reino de Galiza desde o século IX, do Caminho de Santiago, de Xelmírez e do esplendor lírica medieval galego-portuguesa em nível internacional. Os mais interessados podem como sempre começar por ler na Wikipedia o artigo Historia de Galiza na Idade Media e investigar a partir daí.

Como este blog não termina aqui, teremos tempo de voltar mais adiante sobre ela, mas agora tomaremos como ponto de partida o ano 1230, quando falece Afonso IX e seu filho Fernando III, rei de Castela, não respeita o testamento do pai e luta por integrar o Reino de Galiza a Castela.

No próximo capítulo.

domingo, 12 de julho de 2009

GARITA DA HERBEIRA

De sempre me pareceu que a grandiosidade e a beleza desta esquina do nosso pais era um dos melhores exemplos do mal que nos sabemos vender no exterior. E hoje quando busco informação na internet sobre ela, não me fica a menor dúvida. Na wikipedia não tem nem artigo próprio, e para encontrar a informação, a mais completa que há é o artigo sobre a Serra da Capelada na wikipedia... em italiano!!

Por conseguinte, com tão pouca propaganda, só aqueles que cumprimos em vida com o requisito do Santo Andrés de Teixido "vai de morto o que non foi de vivo", e continuamos nossa experiência uns poucos quilômetros Serra em cima, nos encontramos com esta espetacular visão:


Os alcantilados mais altos da Europa Continental, com 620 metros de altura a pé do Oceano (só superados pelos 750 das as Ilhas Faroe e os 668 da Ilha Achill na Irlanda), sou uma paragem de beleza extraordinária que deveria figurar em todas as rédeas turísticas, capaz de gerar quando menos, tanto puxão turístico como a capela de Teixido (e que o Santo me perdoe...)


Uma visita a esta vila da prefeitura de Cedeira não deveria passar por cima outros lugares de interesse da zona, como Cabo Ortegal ou a Foz de Ortigueira:


Santo Andrés de Teixido


Cabo Ortegal
Cariño e Foz de Ortigueira.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

TROPICÁLIA

Nos anos 60, a influência do sucesso do pop-rock anglo-saxão sobre a música brasileira motivou a aparição de um dos mais reconhecidos movimentos culturais do século passado: o Movimento Tropicalista ou Tropicália, nascido com a idéia de "digerir a cultura exportada pelas potências culturais e regurgitá-la após a mesma ser mesclada com a cultura popular e a identidade nacionais ".

Hoje dedicamos o blog a lembrar a alguns seus principais impulsores, como Caetano Veloso (compositor do tema Tropicália, que daría nome ao movimento), Chico Buarque ou Gilberto Gil.


Caetano Veloso - Tropicália



Chico Buarque - O que será




O ministro Gilberto Gil e Os Mutantes - Domingo no Parque





Aínda que antes de todo iso, fora a versión en inglés de Astrud Gilberto dun tema de bossa-nova anterior ao Movimento Tropicalista (Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes en 1962) o que colocou a música brasileira en primeira liña do panorama musical internacional:

quinta-feira, 9 de julho de 2009

QUE BEM O PASSAM

Este fim de semana há tantos eventos (Festival celta de Ortigueira, Cultura Quente em Caldas, Super Bock Super Rock com Depeche Mode em Porto, Optimus Alive de Oeiras com Dave Mathews e Black Eyed Peas em Lisboa, Lou Reed em Santiago, Feira Medieval em Betanzos e e umas 150 festas gastronômicas por todo o pais...) que melhor deixá-lo assim porque este blog não da para tanto.

Em lugar disso, um breve comentário de atualidade, sobre estas duas fotos:


fonte: diario el pais, www.elpais.es
"Os países que integram o G-8 acordaram ontem limitar o aumento das temperaturas a somente de dois graus centígrados..." (devem pensar que controlar os graus centígrados é como controlar a taxas de juros do ECB) "... e reduzir em 80% as emissões de CO2 antes de 2050". E digo eu, por que será que por estes risos dos "lideres mundiais" nesta fotografia acho que devo tomar do mesmo modo as suas intenções?



A foto publicada há poucos dias no blog de Paul Krugman não deixa lugar a dúvidas:


fonte: http://downloads.globalchange.gov/usimpacts/pdfs/climate-impacts-report.pdf

isto se está pondo muito feio. De seguir assim, preocupar-se pelo futuro da nossa cultura vai ter pouca importância se quem não tem futuro é o mundo no qual vivemos.


segunda-feira, 6 de julho de 2009

CULTURA NA RAIA

Afortunadamente, este blog não é o único que trabalha para informar as realidades dos dois lados da "raia". A semana que vem, do 15 ao 19 de julio, nas vilas galega e portuguesa de Tominho e Vila Nova de Cerveira, tem lugar a "Festa do Cinema Galego e Português, Filminho":






O objetivo da festa, "...mostrar que na fronteira nada acaba, não há o fim de nada. Mas, pelo contrário, é na fronteira que tudo começa. Aqui não nos reduzimos a metade. Aqui duplicamos as nossas emoções, os nossos objectivos, a nossa vontade!"

PARABÉMS, FILMINHO!!


Para mais informação, vocês podem visitar seu site http://www.filminho.eu/

(quase se me esquece, muito obrigado Charlie pela informação!!)

O BRAZIL, 8ª ECONOMÍA DO MUNDO

Segundo os dados do FMI, Banco Mundial e CIA (ver Wikipedia e as respectivas sites), o Brasil era a décima economia de Mundo a finais do 2008. Nos sete primeiros postos da lista a única variação nos últimos anos é a imparável emergência de China, quem provavelmente no final de 2010 será oficialmente a segunda economia do Mundo por diante do Japão.

Elaboraçao Propria.
Dados http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_GDP_(nominal)
exceto (*) Dados para Galiza: Estimativa propria.

Nessa classificação, 4 países levam alguns anos competindo pela oitava posição: A Rússia, Espanha, o Brasil e o Canadá. A Rússia e o Brasil, como potências emergentes, levam as de ganhar, mas os últimos eventos econômicos estão fazendo que os prognósticos devam ser revisados.

No caso do Brasil, as previsões de crescimento econômico para os próximos anos passaram, em questão de meses e por causa da atual crise econômica mundial, de estimativas de crescimento meio do 5-6% nos próximos 5 anos a taxas do -1,30% em 2009 e +2,2% em 2010 segundo o FMI. A própria contabilidade da Presidência da República aponta a uma queda no primeiro trimestre de 2009 do -1,78%, que corregida pela estacionalidade resulta um -0,83%.

A possibilidade que o Brasil alcance o título de 8ª economia do Mundo parecia claro com perspectivas de crescimento do 5-6%, com a permissão unicamente da Rússia que estava crescendo a taxas inclusive superiores. Agora, no novo ambiente econômico, as coisas apontam mais ainda em favor do Brasil, já que a contração da sua economia não só não é um caso isolado, mas é uma das que melhor estão resistindo o atual ambiente, justo ao invés que a Rússia (-6,0% estimado em 2009) ou a Espanha (para a que ainda em 2010 se esperam taxas negativas de crescimento).

Com estes dados, a perspectiva para estas quatro economias nos próximos anos é a seguinte:

Elaboraçao Propria.
Dados http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2009/01/pdf/text.pdf

O Brasil se transformará na 8ª economia do mundo em algum ponto entre finais de 2009 e princípios do 2010, lugar que inclusive em termos de paridade de poder de compra deveria traduzir-se no 6º em menos de uma década. E supõe a dia de hoje uma economia 7 vezes maior que a economia de Portugal, e 20 vezes a de Galiza.


Mas não só em termos de volume de sua produção se mede o empurrão da economia brasileira:

- uma população de quase 200 milhões de habitantes, e uma força trabalhista superior aos 100 milhões de trabalhadores, ambas crescendo a taxas de 1% anual:


- um crescimento econômico muito superior ao dos países ocidentais (5,1% em 2008), em uma economia igualmente estável: inflação 4,5% em 2008, desemprego de 8%, governo democrático há mais de 20 anos, peso do setor terciário 66%, população embaixo do umbral de pobreza de 23% -elevado, mas idêntico ao de Galiza...-, etc.

- uma estrutura demográfica muito pouco envelhecida: os maiores de 65 anos só são 6,5% da população e há mais 4 vezes garotos (25%), resultando uma figura muito diferente à das pirâmides de população dos países ocidentais que põem em perigo a sostenibilidade dos seus sistemas de pensões. A esperança de vida é superior aos 70 anos.

- população urbanizada -20 cidades superam o milhão de habitantes, com São Paulo (11 milhões) e o Rio de Janeiro (6 milhões) à cabeça- e historicamente multiétnica.


A quarta democracia e oitava economia mundial fala português.

sábado, 4 de julho de 2009

LIBERDADE

Liberdade é uma palavra que evoca os melhores sentimentos quando a escutamos. Em nome da liberdade, as democracias se impuseram sobre as tiranias, os avanços científicos sobre séculos de escuridade, e o livre comércio proporcionou um progresso econômico sem comparação na história da Humanidade.

É por isso que utilizar a palavra liberdade como argumento para justificar nossos atos resulta muito convincente, já que –sempre que se respeite a máxima “minha liberdade termina onde começa a dos demais”- ninguém que se considere democrata se atreveria a colocá-la em interdição.


Ter uma ferramenta tão potente se volta muito atrativa politicamente, já que qualquer opinião pode defender-se mencionando “meu direito” a pensar, fazer ou decidir. Por isso não deveríamos perder de vista que a liberdade não pode servir como escusa para qualquer ação. Da mesma forma que ninguém veria legítimo o direito a matar com base no seu arbítrio, deveríamos exigir que a palavra liberdade não fora maltratada para justificar qualquer ato, pois no seu nome não só se defendem os mais altos ideais, mas também pretendem alguns credenciar seu direito a quebrar as normas humanas mais fundamentais:

- Em nome da liberdade de empresa alguns justificam que são mais importantes as patentes e os benefícios das farmacêuticas que as vidas dos milhões de seres que morrem cada ano no terceiro Mundo de aids, malária ou gripe (A, B ou Z, que ali tanto dá). Querer estender a todos os âmbitos o mercado livre –especulativo- de umas elites, permite que lucrar no cassino dos futuros sobre alimentos básicos condene ao fome a meio mundo.
- O suposto direito dos trabalhadores a exercer tanto tempo como queiram era o pretexto para autorizar as jornadas trabalhistas de 65 horas (que capacidade para negar-se terá aquele que depende de seu salário para sustentar a sua família?. E a liberdade de horários no comércio beneficia às grandes superfícies –onde, claro, contratarão a trabalhadores que “escolham” fazer jornadas de 65 horas-, prejudicando ao comércio de autônomos que não pode competir 24x7.
- Os exemplos não aplicam só à economia: o impacto da atividade humana sobre o meio ambiente, a colonização sobre línguas e culturas em desvantagem, o menosprezo dos direitos de as minorias étnicas e de todo tipo, etc.


Mas este uso imoral da palavra liberdade não é o único que quero censurar aqui.

Se só denunciássemos o “nível moral” dessas decisões, e como repercutem sobre os demais, a discussão entraria no plano da ética; e assim argumentariam que a moral é pessoal, que não há baremas absolutos para julgar as conseqüências de seus atos.

Mas ocorre que quem dizem falar em nome da liberdade para justificar-se, fogem dela quando não lhes é propicia. Atrás desse argumento se esconde em algumas ocasiões o duplo moral ou, simplesmente, a lei do mais forte:

- As regras do livre mercado só se defendem quando somos o lado forte: exigimos aos países em desenvolvimento que não ponham barreiras ao comércio, enquanto subvencionamos nossa agricultura; lhe pedimos à China e India que busquem um modelo econômico que não prejudique ao meio, enquanto não fazemos nada por mudar o nosso; reclamam ao Estado “laissez faire!”, e depois clamam por “um parêntese na livre economia” (essa frase do presidente dos empresarios espanhois ficará para sempre em minha memória…)
- O status de uma língua depende de qual seja, quem a fale e onde: “as línguas não têm direitos, só as pessoas” –dizem-, mas esse direito se lhe nega a um galego em Madri, porque ali “o idioma único é o espanhol” (mas não era que as línguas não têm direitos?); os mesmos que louvam que a convivência “harmônica” nos territórios bilíngües é uma virtude, em suas regiões não querem aprender outra língua do Estado –como fazem na Suíça, o Canadá, etc.-, ou criticam o uso de anglicismos que põem “em perigo” a língua de Cervantes.
- E o direito individual a escolher, tantas vezes defendido em outros âmbitos, lhe o negam a segundo quem o reclama: as mulheres, quando se trata de planejar sua maternidade, sobressaindo sobre elas o direito do óvulo fecundado; ou a quem reclama algo tão básico como seu direito a morrer em paz.


Tudo isso é fazer uso da palavra liberdade para, simplesmente, justificar-se na lei do mais forte. E, claro, fazê-lo só quando lhes convem. Se são o lado débil da balança, ou pedem ajuda (resgate do Estado a empresas e bancos em apuros), ou buscam credenciar sua “liberdade de eleição” desde o ponto de vista que lhes resulte mais rentável a seus interesses: o direito à autodeterminação dos povos em nível do Estado, e o funcionamento da economia do Estado ao mercado; o direito a defender a língua própria de um pais em nível individual, e o direito a ter uma morte digna em mãos do Senhor.


Isso não é liberdade, é aproveitar-se de seu bom nome. E essa dupla moral não os há “mais democratas”, mas tudo o contrário.

Liberdade é a capacidade de poder dizer o que penso sem ataduras de ninguém. E o que eu penso é que jamais utilizaria minha liberdade como pretexto para justificar que haja pessoas no Terceiro Mundo que morram de doenças das que qualquer em Ocidente sanaria; que a língua e a cultura dos meus antepassados se desvaneça enquanto meus filhos herdam um Planeta em perigo e uns recursos esgotados; que um trabalhador não tenha condições de trabalho e salário dignos; que uma mulher não possa decidir quando e quando não ter um filho; ou que se obrigue a um homem a viver uma vida que eu não quisesse para mim.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

MUITO MUDAMOS

Hoje às 20:00, na Fundação Caixa Galicia de Lugo, inaugura-se a exposição "Ruth Matilda Anderson. Um olhar de antanho". 164 imagens tomadas pela etnógrafa e fotógrafa Ruth Mathilda Anderson na Galiza, entre os anos 1924 e 1926.



Vocês podem ver algumas das fotografias que compõem a exposição nos sites www.culturagalega.org e www.xornal.com. Muito mudamos...