sexta-feira, 31 de julho de 2009

NÃO SOMOS OS ÚNICOS

Afortunadamente, não somos os únicos que vemos no Brasil, Portugal e o português uma chave para o futuro de Galiza e o galego.

Dois exemplos: Os primeiros são recém chegados, e lhe tirarão a mais de um a idéia que o lusismo "é coisa de radicais do bng". Entendendo por radical, claro, a todo o mundo que não pense como eles. O segundo é um dos grandes escritores e pensadores em nossa língua, e já há muito que vem dizendo o que propomos modestamente desde este blog.


1.- Convergência XXI: Tentam ser um germe de um partido nacionalista de direitas (outro mais, a ver como lhes vai). Mas quando menos têm o valor de ser gente jovem que se afasta do espanholismo do Partido Popular para propor uma visão em código nacionalista.

O que nos interessa: defendem "um acercamento ortográfico do galego ao português. Este é um debate que tem que ser dêdramatizado e feito desde formulações que pensem no melhor para o idioma e para seus usuários, e não para as cúpulas do PP e o PSOE e outros interesses alheios à cidadania e às empresas galegas. O idioma produz riqueza, o espanhol contribui mais ao PIB da Espanha que o turismo. Nós, além do espanhol também falamos a língua do Brasil, Angola, Moçambique, Macau, etc. E tem mais, a língua de todos esses lugares nasceu em nosso território e faz parte de nosso patrimônio; séria muito grave continuar tirando todos os dias esse ativo tão valioso ao lixo. O português não é outra coisa que o galego cultivado. Como galegos temos que lhe dar a nossa língua o tratamento de língua latina culta e não de variante ortográfica do espanhol. A atual ortografia do galego, na qual está escrito este texto, é uma escritura puramente foneticista de quem estava alfabetizado em espanhol".

Vocês podem encontrar mais informação no seu site http://www.converxencia.eu/ ou na recente entrevista en A Peneira Dixital.


2.- Suso de Toro. Com sua mestria, debulhou em um só artigo o que nós tentamos fazer entender neste blog: que se Portugal fosse a Alemanha, "galego o último". E além disso, já o vem dizendo desde o ano 2007, quando menos.

Do artigo -publicado no jornal El País (en castelhano) pela polêmica ocorrida por ter levado a Extremadura um organismo de cooperação entre fronteiras entre a Espanha e Portugal-, resumimos alguns extratas a continuação:

Que quer a Galiza de Portugal?

E que Portugal da Galiza. Portugal e a Galiza mantemos relações à galega: sim mas não. E por confusas são frustrante. Em nossa imaginação segue havendo alfândegas, guarda civil e guardinhas. Nosso pensamento é reacionário, vive quase trinta anos atrasado: ja não há fronteiras, nem pesetas e escudos mas euros, não há dois espaços mas um e a raia que separa as manchas não existe.

Atuamos ignorando a Portugal porque temos a imaginação colonizada pelo nacionalismo espanhol? Sim. Mas também o explicam as relações de poder, o mais forte, o mais rico sempre se coloca acima do mais débil ou mais pobre. Portugal sempre esteve economicamente atrás da Espanha, e assim, os galegos, apesar de estar atrás na Espanha em quase tudo, se podem sentir acima dos portugueses. Gosta sentir-nos superiores, mais ricos, mais modernos que nossos vizinhos. Os galegos somos os penúltimos dos espanhóis, mas olhamos acima do ombro aos portugueses, graças a que não temos memória e a nossa ignorância.

Graças a que não temos memória, porque o atraso econômico português não é tão diferente do nosso, só lhes levamos uns anos de adiantamento no atraso. Também esquecemos como nos viram sempre os demais: o romancista e diplomata Palácio Valdés lhe dizia a um português, "acham-se ingleses e não são mais que galegos". Mas, que ninguém o duvide, se Portugal tivesse a riqueza, poder, prestígio da França aqui todos falariam português com sotaque lisboeta. Galego o último!

E ignoramos a Portugal também por ignorância: A de nossa história. Um contínuo histórico que, com lutas dinásticas por meio, chegou até o século XV em que a Galiza, a Galiza "domada e castrada", ficou unida à uma Corona radicada no centro peninsular. Ainda assim compartilhamos um espaço lingüístico. Os portugueses moçarabizaron a língua falando à maneira do sul peninsular, lingüisticamente são nossos andaluzes, dando lugar ao mesma paradoxa de um santanderino em Cádiz: custa entendê-los. Mas nossas palavras, levadas por eles pelo mundo, as reconhecemos facilmente nessa potência em marcha que é o Brasil, ali floresce o galego, e surpreende idêntica fala em Angola e Moçambique. Só um país louco desprezaria essa riqueza, esse patrimônio lingüístico. Máis a Galiza sim. Pela sua ignorância e preconceitos, por uma ideologia nacionalista de um Estado uniformizador e centralista.

A única saída da Galícia é aceitar o mapa, a realidade e construir nossa eurorregião, levantada sobre o reencontro sem preconceitos. E se não é assim, não nos queixemos tanto pois temos o que merecemos. Extremadura não tem vergonha nem complexo em aprender a falar português: merecem ser sede desse organismo entre fronteiras. É triste, mas nós não. A merecê-lo.


Vocês podem seguir além disso ao autor galego no seu blog, http://susodetoro.blogaliza.org/.

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