domingo, 16 de agosto de 2009

EU SON...

Balbino.

Un rapaz da aldea. Coma quen dis, un ninguén. E ademáis, probe. Porque da aldea tamén é Manolito, e non hai quen lle tusa, a pesares do que lle aconteceu por causa miña.

No vrao ando descalzo. O pó quente dos camiños faime alancar. Magóanme as areas e nunca falta unha brocha pra espetárseme nos pés. Érgome con noite pecha, ás dúas ou tres da mañán, pra ir co gando, restrevar ou xuntar monllos. Cando amañece xa me doi o lombo e as pernas. Pero o día comeza. Sede, sol, moxardos.

No inverno, frío. Ganas de estar arreo ó pé do lume. Muíños apeados. Faladurías de neves e lobos. Os brazos son como espeteiras pra encolgar farrapos. Murnas, fridas, dedos sin tentos.

¡Qué saben desto os nenos da vila!

Memorias dun neno labrego. Xosé Neira Vilas.


Neira Vilas não só é responsável de ter escrito o livro mais vendido em galego. Para cada um dos que lemos sua pequena jóia representa uma história de amor a nossa língua e a nossa terra. A minha: àquele garoto de 12 anos -que seria o que tinha eu daquela-, que nasceu e cresceu no ambiente urbano e castelhano-falante de Pontevedra e educado em castelhano "como Dios manda", mas que conhecia o mundo rural em primeira pessoa porque quase toda minha família é de uma aldeia de Vimianzo, descobrir-lhe os desejos de um garoto de aldea, sentir-se digno dele e de seu mundo, do campo e de sua fala, nossa fala.

E aprendi o "Eu sou Balbino..." de cor (ainda hoje poderia recitar uma bom parte). E prometi-me que algum dia, quando tenha um cachorro que seja meu, chamará-se Pachín (dia que ainda não chegou, porque isto de viver em lacoru é o que tem, mas chegará), porque com o que chorei por ele bem o merecia. E comezé fazer o que nunca antes tinha feito: ler nossa literatura, começando por Castelao, que me encantava "Um olho de vidro", e muitos outros. Balbino fez de mim, em resumo, um garoto que ama a sua língua e sua terra.

E hoje quando folheio o "Memórias...", o mesmo exemplar que lia de garoto, encontro na primeira página esta dedicatória:


Xosé Neira Vilas, 10-2-93


O certo é que, fazendo memória, opino que não foi a mim, mas a meu irmão pra quem o assinou, mas... que mais dá!!

Seguro que se você leu alguma vez, agora você está pensando em voltar a lê-lo mais uma vez. Eu já o estou fazendo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário